Manacá, Manacá-da-serra, jacatirão ou se preferir ainda, flor-de-quaresma. Pequena árvore (8 a 15m) comum em capoeiras e capoeirões (florestas secundárias)¹, floresce entre novembro e fevereiro, por isso, também é chamada de "natalzeiro" no Sul.
Suas flores de coloração branca ao roxo azulado são, particularmente, enfeitiçadoras.
A característica das flores que mudam de cor deu origem ao nome da espécie: mutabilis, e a sua grande beleza originou o nome da espécie mais próxima: pulchra, bela em latim.
¹Floresta secundária: (1) Vegetação com formação de porte e estrutura diversa, onde se constata modificação na sua composição, que na maioria das vezes, devido a atividade do homem, apresenta-se em processo de degradação ou mesmo em recuperação (Portaria Normativa IBAMA 83/91). (2) Floresta que foi cortada e cresceu novamente, sem intervenção do homem; diferente de área reflorestada, onde as florestas são plantadas.
Sapateando pelo youtube a cerca de um ano atrás (não sei dizer precisamente quando, pois minha memória é quase como a de um peixinho), vi o nome dessa árvore como nome de uma banda. Então fui carregar o video, mas só depois da conexão cair umas três vezes, pra enfim ouvir a música. O nome da música: Diabo.
Aumenta-se a curiosidade mais ainda quando vejo, na imagem congelada, uma moça de branco segurando a saia. Moça muito linda por sinal *risos*, aposto nela, Léticia Persiles, como a flor bela do Manacá.
Parêntese: dizem que ela é a Jolie brasileira, pois não acho não. Jolie tem lugar especial e 'cabôsse'.
Enquanto a música carregava, eu pesquisava um pouco sobre a banda. Seu nome foi resgatado também da literatura de Ariano Suassuna e seu “Romance da Pedra do Reino”.
E me 'empolguei' quando li uma passagem de um texto de Guilherme Sorgine que dizia:
"Tal qual tropicalistas contemporâneos, a banda explica para confundir, e confunde para esclarecer, antropofagizando influências heterogêneas, em diálogos improváveis, que muitas vezes extrapolam o puramente musical, contrapondo Cordel do Fogo Encantando ao neo-progressivo americano do Mars Volta; Movimento Armorial a Led Zeppelin e Queens of the Stone Age e Novos Baianos, dentre muitos outras das inúmeras combinações possíveis. As letras não deixam por menos, e versam sobre temas pouco comuns no árido cenário do pop/rock, tão diversos quanto as festas de reisado do Nordeste brasileiro e os movimentos sebastianistas do século XIX. As temáticas do Manacá são sólidas, como é a parede sonora que adiciona castanholas e viola à tradicional tríade baixo/guitarra/bateria. Em lugar de alienar, acrescenta; não menospreza, faz pensar. Fugindo da reverência passiva aos mestres em cuja fonte não se furta em beber, o Manacá ousa, lança mão da saudável imprudência permitida à juventude (e somente a ela) e clama por lugar próprio na música brasileira. (...) É o Brasil para o mundo, e o mundo para o Brasil, sem apelar para batucadas de gringo nem se render ao purismo totalitário das manifestações pretensamente autênticas de nossa cultura. E nunca, nunca deixa de soar Rock, com ‘R' sonoro e maiúsculo. Um alívio para ouvidos cansados."
Depois dai não quis mais ler nada sobre a banda, por hora, e fui ouvi-la.
Pronto. Quero ir aos shows, quero o DVD, não CD (porque a música, sem ver a Persiles se movendo, fica incompleta), quero dançar sem parar.
Passei a ouvir Manacá como se fosse um ritual diário, como se eu fosse um sabiá no sertão e tivesse a obrigação de cantar quando chove.
Pouco tempo mais tarde me aparece na televisão, quem?
Ela.
E ainda por cima, como Capitu de Machado de Assis. Poxa! já não bastava eu ter me apaixonado uma vez, na adolescencia, pelo personagem de olhos de ressaca?
Pois me apaixonei novamente... pelos olhos oblíquos de cigana dissimulada.
"A Capitu é, antes de tudo, um arquétipo do feminino. É como a origem da vida, um grande mistério. Uma mulher muito julgada, mas extremamente admirável" diz Letícia.
Vai a dica ai pra quem ainda não conhece esse conjunto de encantos.
Deixe-se levar pelo batuque!
Fontes:
Estudo sobre Manacá por CATHARINO, Eduardo Luís, Engenheiro Agrônomo, Mestre em Botânica e Pesquisador Científico do Instituto de Botânica de São Paulo
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